sábado, 5 de abril de 2008

NEONAZISMO NO BRASIL E NA INTERNET: DEFESAS POSSÍVEIS...



Mais de cem pessoas assistiram a palestra da profa. Adriana Dias, mestre em Antropologia Social da Unicamp ontem em São Paulo, abrindo o ciclo de palestras da Comissão Nacional de Direitos Humanos da B´nai B´rith do Brasil. O evento foi coordenado pela dra. Margarette F.C. Barreto, delegada titular do DECRADI -Delegacia de Crimes Raciais e Delitos da Intolerância – de São Paulo. Na mesa que dirigiu os trabalhos, estavam presentes também Ben Abraham, presidente da Sherit Hapleitá e Alberto Liberman, diretor nacional de Direitos Humanos da BB Brasil. Prestigiaram o evento, entre outros, Etejane Hepner Coin, presidente da Wizo/SP, Adélia Tulman Cabílio, presidente da B´nai B´rith de São Paulo, Anita Pinkuss, do Centro de Cultura Judaica, Isaias Lerner, representando o presidente da Hebraica Peter Weiss; Sérgio Tomchinsky, pela Câmara Brasil-Israel de Comércio e Indústria e Renato Akerman, do Projeto Paper Clips.

O tema "Neonazismo no Brasil: mapeando o perigo, as defesas possíveis", foi abordado a partir das pesquisas para a defesa tese de mestrado da profa. Adriana, que por seis anos analisou 12,6 mil páginas da internet com temática neonazista, racista ou revisionista (que tenta negar ou minimizar a existência do Holocausto), em inglês, português e espanhol.

Seu objetivo é estudar como o neonazismo usa a Internet para se propagar fora dela, para buscar soluções, inclusive em termos de políticas públicas que possam combatê-lo.

Para Adriana, "os neonazistas constroem uma imagem do judeu e do negro que só existe na cabeça deles". De acordo com o discurso usado por eles "os judeus seriam responsáveis pela pedofilia, disseminação do aborto, capitalismo e comunismo". Os integrantes desses grupos não conseguem enfrentar a angústia da vida moderna e acabam aderindo a um delírio coletivo. É uma visão maniqueísta do bem e do mal, que não aceita o diálogo. "Quem não tem sangue ariano não os entende, sendo inimigo que deve ser combatidos para que eles sobrevivam", acreditam.

Este "delírio" se fortalece na medida em que é compartilhado. "São 500 mil pessoas nos EUA, mais de 200 mil na Europa e 150 mil no Brasil que lêem material revisionista, neonazista e racista, através da internet", destacou.

Alguns sites mostrados pela antropóloga incitam claramente a eliminar negros e judeus. Sabe-se que estes grupos não ficam apenas no discurso "Em muitos casos há rituais, como por exemplo, para ingressar no grupo é preciso espancar um judeu. Isso acontece hoje", ressalta a pesquisadora.


SITES NEONAZISTAS: "NÃO É COISA DE ADOLESCENTE"
De 2003 a 2006, sua pesquisa se concentrou nos sites, concluindo que são produzidos por pessoas entre 35 a 55 anos, com educação pré-superior ou superior. "Não é coisa de adolescente". Usam ferramentas tecnológicas avançadas, dispõem de recursos financeiros e, em sua maioria são sites ativos, visam divulgar o neonazismo. "Há desde os que contam com 60 a 30 mil páginas".

Outras formas de difusão pela Internet são os fóruns, com debate de temas e os blogs, com diários, alguns dos quais "monstruosos".

Já os jovens preferem o formato "wiki", considera a pesquisadora. Este foi criado pelo Wikipédia, um site sério de informações científicas, do tipo enciclopédia, onde os usuários podem adicionar dados. Este formato é usado, por exemplo, no Ziopédia, um site racista em formato "wiki", de ódio aos judeus e a Israel. "Há milhares de pessoas produzindo esse tipo de material na Austrália", informou.


EM QUE REGIÃO SE CONCENTRAM E COMO ATUAM
No Brasil, o discurso neonazista é contra a maçonaria e os judeus são culpados por todos os males do mundo. De acordo com sua pesquisa eles se concentram em ordem descrente em: Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo, Paraná e Distrito Federal. Possivelmente, há uma relação entre locais que devem ter abrigado oficiais nazistas e a expansão destes movimentos, destacou.

Outra revelação é a existência de um movimento feminino muito forte, onde as mães "educam seus filhos para serem guerreiros da raça ariana".

A professora também identificou como eles estão organizados: há os solitários, há as células, grupos pequenos, que não conhecem as pessoas das demais células e outros como o "nacionalismo espiritualista", que defende a criação de um partido político.


A AÇÃO DA DELEGACIA DE CRIMES RACIAIS EM SP
A delegada Margarette mostrou através de fotos um pouco da ação diária da Decradi - Delegacia de Crimes e Raciais e Delitos da Intolerância, na áreas de estratégia, prevenção, segurança em eventos, incluindo os da comunidade judaica, investigação e prisão. Citou casos de Ganges e de indivíduos, como o de um skinhead preso que não podia tomar banho sem camiseta senão seria linchado na prisão por suas tatuagens. Ao ser solto tatuou a palavra skinhead em ambas as mãos, de modo que não poderá escondê-las.
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Falou também da atuação da Decradi na área do futebol, onde houve uma campanha da Federação Paulista de Futebol contra o Racismo; do combate à homofobia, dos ataques de neonazistas a homossexuais em São Paulo, da ação junto ao movimento negro e da atuação conjunta com a comunidade judaica. "Gostaria de agradecer a oportunidade de trabalhar com a comunidade judaica, por seu respeito por todos e pela vida humana sobre a face da terra".


LEGISLAÇÃO E EDUCAÇÃO
Para a profa. Adriana dois fatores são fundamentais para combater o neonazismo: Legislação e Educação. "O crime de ódio raciail na Internet não está tipificado, o Brasil tem uma das piores legislações do mundo nessa área", afirmou, ressaltando a importância do projeto de Lei para tornar crime a negação do Holocausto (revisionismo). A delegada Margarette complementou: "É preciso uma legislação específica para os crimes na Internet, isso se aplica também à pedofilia, homofobia e ao ódio racial, entre outros", destacando o trabalho feito pela Delegacia de Crimes da Internet, ligada ao DEIC.

Embora a questão seja complexa, com a hospedagem de sites em outros países, o Brasil tem conseguido vitórias. A professora Adriana agradeceu ao procurados Sergio Suiama, que tem sido um dos responsáveis pela retirada do ar de sites racistas, no que foi corroborada pela delegada Margarette.

A Educação é fator fundamental. "Os jovens são arregimentados porque não têm informações. É preciso educar para os Direitos Humanos no Brasil", conclamou a profa. Adriana, antes de abrir os debates.

COMO PROCEDER?
O diretor nacional de Direitos Humanos da B'nai B'rith e Adriana Dias explicaram que não se deve entrar nos sites neonazistas e discutir. O melhor caminho é passar as informações para a B'nai B'rith, que como vem fazendo de longa data, encaminhará aos órgãos competentes, preparados para agir nestes casos.

Na área da Educação, a B'nai B'rith do Brasil está promovendo este ano, Concurso de Redação sobre o Holocausto, com palestras para professores e alunos, para a Rede Pública de Ensino de São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Porto Alegre, com Jornadas Interdisciplinares para docentes nas três cidades e uma Exposição sobre Anne Frank, com ciclo de conferências em Porto Alegre.


fonte: http://blognetjudaica.blogspot.com/

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